Senadores, familiares, professores e ativistas celebraram a memória e o legado do educador Paulo Freire, em uma sessão especial de homenagem, na tarde desta segunda-feira (20). Ele foi apontado como um revolucionário e como uma referência para a educação, no Brasil e no mundo.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN), que apresentou o requerimento para a sessão de homenagem, relembrou a trajetória de Paulo Freire, que faria 100 anos no domingo (19). Ele destacou sua formatura em direito, sua paixão pela educação e seu exílio no exterior, até se tornar uma “referência mundial”. Conforme ressaltou o senador, Paulo Freire é responsável por um método revolucionário de alfabetização de adultos.
Segundo Jean Paul Prates, são várias as universidades ao redor do mundo que têm Paulo Freire como uma grande referência na educação. O senador criticou o que chamou de “trevas” do governo de Jair Bolsonaro e disse que essa “marcha da insensatez” precisa ser combatida, com a contribuição da obra de Paulo Freire. Ele afirmou que o nome do educador não sofre qualquer contestação no exterior. Mas no Brasil, lamentou, cada vez mais “as vozes do obscurantismo tentam contestá-lo” por suas posições políticas.
Jean Paul disse ver um pouco de Paulo Freire na luta diária de diretores, professores, alunos e merendeiras. De acordo com o senador, Paulo Freire é o terceiro teórico mais citado em trabalhos na área de humanas, em nível mundial. É também detentor de mais de 40 títulos de doutor honoris causa.
— Nós honramos Paulo Freire em cada ato de defesa da liberdade de cátedra. A educação, que tem em Paulo Freire sua grande referência, é o sol que sempre vai vencer as trevas — declarou.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) manifestou sua admiração pela obra de Paulo Freire e lamentou a atuação dos ministros da Educação do governo Bolsonaro. Ele reafirmou seu compromisso na defesa da educação pública de qualidade e lembrou uma frase de Paulo Freire, segundo a qual “é fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.
— Eu espero que nós tenhamos um verdadeiro compromisso com a educação — cobrou Contarato.
Para o senador Flávio Arns (Podemos-PR), a celebração do centenário de Paulo Freire é um momento de alegria para o Senado. Ele disse que Paulo Freire é respeitado em todo o mundo por defender mais recursos e competência técnica para a educação. Flávio Arns também lembrou que Paulo Freire ensinou que a educação é libertadora. Segundo o senador, Paulo Freire sempre esteve ao lado daqueles que ocupam o fim da fila.
— A história, como ele sempre enfatizava, se faz com o outro e não para o outro. Esperança e coragem são palavras que precisamos para o Brasil de hoje — declarou Flávio Arns.
Transformação
A viúva do homenageado, Ana Maria Araújo Freire, agradeceu a homenagem do Senado e se disse alegre pela sessão especial. De acordo com Ana Maria, Paulo Freire viveu buscando um mundo melhor, com mais justiça para os menos favorecidos. Para isso, segundo a viúva, Paulo Freire defendia a transformação radical da sociedade. Ela ainda disse que viver por dez anos com o professor foi uma “graça de Deus”.
— Sempre tive em Paulo a imagem de um homem probo, lúcido e inteligente, que trabalhou em favor do outro, para que a sociedade fosse mais justa — declarou Ana Maria.
Para o professor Marcos Guerra, contemporâneo de Paulo Freire em seus primeiros projetos de alfabetização de adultos, a educação é um ato de transformação. Ele disse que a alfabetização ajuda o trabalhador a ser “povo” e não mais “massa”. Segundo Guerra, o trabalho de Paulo Freire evidencia a importância da educação e seu legado estimula a busca por “novos caminhos”.
— Nós devemos aos brasileiros marginalizados uma resposta pela educação. O analfabetismo é apenas um pedaço da desigualdade — afirmou Guerra.
O professor José Fernandes Lima, ex-presidente do Conselho Nacional de Educação, disse que, a exemplo de tantos milhares de professores no Brasil, teve a obra de Paulo Freire como referência ao longo de sua trajetória no magistério. Ele elogiou o desprendimento e a generosidade do educador e disse que Paulo Freire ainda ensina as atuais gerações, principalmente, pelo exemplo.
— Seus ensinos foram e continuam sendo fundamentais para a nossa orientação. Ele nos ensina a combater a ideologia fatalista e nos mostra que a educação e a cultura são essenciais para um mundo mais justo e mais bonito — afirmou o professor.
A presidente do Instituto Paulo Freire em Portugal, Luiza Cortesão, disse que Paulo Freire não é apenas brasileiro, mas um cidadão do mundo e, de maneira bem carinhosa, um cidadão de Portugal. Para a professora, o trabalho do educador ajudou a incrementar a qualidade do magistério e de todo o processo de ensino. Ela disse que Freire ajudou a mostrar ao mundo as diferenças entre os aprendizes e apontou os caminhos de luta para uma maior qualidade da educação.
— Como dizia Paulo Freire, a educação pode contribuir para um mundo menos discriminatório e menos injusto — apontou a professora.
Legado
O coordenador do Instituto Paulo Freire, Lutgardes Costa Freire, filho do homenageado, disse que Paulo Freire considerava a esperança como um verbo: “esperançar”. Segundo ele, seu pai queria que seu trabalho fosse continuado, mas não como uma repetição e, sim, como uma reinvenção. Lutgardes Freire ainda afirmou que seu pai não era um intelectual de gabinete, mas tinha uma dimensão prática, de pensar o mundo.
— Ele era um homem do mundo. Todo o seu pensamento vinha da relação do mundo. Ele nos deixou um legado de vida, de amor, de conscientização e de um mundo mais justo — afirmou.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, disse que Paulo Freire “vive cada dia mais dentro de nós”. Fátima contou que, neste domingo (19), esteve em Angicos (RN), região onde Paulo Freire implementou seu método de alfabetização de adultos, e pode conversar com ex-alunos do professor. Ela informou também que foi inaugurado um monumento no município, em homenagem ao trabalho de alfabetização de Paulo Freire.
A governadora, que é professora, lamentou o fato de o Ministério da Educação não ter feito “sequer uma nota” em homenagem ao educador. Ela disse que a maior homenagem a Paulo Freire é procurar colocar em prática seu sonho de uma educação de qualidade. Segundo a ex-senadora, porém, o grande legado de Paulo Freire vai além de ensinar o povo pobre a ler e escrever.
— Sabemos da grandiosidade da sua história e da sua trajetória. A maior boniteza do trabalho de Paulo Freire foi ensinar o povo a compreender o mundo e a lutar por seus direitos — registrou Fátima.
O professor e filósofo Mário Sérgio Cortella relatou que foi orientado por Paulo Freire em seu doutorado. Segundo o professor, é importante celebrar a memória e o legado de Paulo Freire, mesmo diante dos ataques dos “democracidas”. Ele definiu o educador como uma “bela pessoa”.
Durante a sessão, ainda foram apresentados três vídeos sobre o trabalho de Paulo Freire. A homenagem foi acompanhada por Esperidião Amin (PP-SC), Marcelo Castro (MDB-PI) e Zenaide Maia (Pros-RN), além de outros senadores. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Heleno Araújo; a coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), Andressa Pellanda; e o líder de Relações Governamentais do Todos pela Educação, Lucas Fernandes Hoogerbrugge, além de outros professores e representantes de entidades também participaram da sessão.
Paulo Freire
Paulo Reglus Neves Freire nasceu na cidade de Recife (PE), no dia 19 de setembro de 1921. Professor e escritor de vários livros, já foi homenageado com o título de doutor honoris causa em várias universidades da América e da Europa. Paulo Freire foi secretário de Educação de São Paulo (SP) na gestão de Luiza Erundina (1989-1992) e morreu em maio de 1997, na capital paulista. É o Patrono da Educação Brasileira, conforme a Lei 12.612, de 2012.
Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
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