Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
As atuais condições e os desafios dos parques tecnológicos do Brasil foram conhecidos pelos senadores da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) nesta quarta-feira (12). Os parques são espaços onde se concentram empresas, universidades, incubadoras de negócios, centros de pesquisa e laboratórios para criar um ambiente favorável à inovação tecnológica.
No Brasil, segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), dos 103 parques tecnológicos, 43 estão em operação, 37 estão sendo implantados e 23 encontram-se em fase de projeto. A maioria deles está nas Regiões Sul e Sudeste (78). Há nove no Nordeste, dez no Centro-Oeste e seis na Região Norte. Eles reúnem 1.337 empresas instaladas, 38.365 empregos diretos, 2.950 mestres e 1,1 mil doutores ligados às universidades envolvidas.
A superintendente da Anprotec, Sheila Pires, destacou que os parques tecnológicos precisam de políticas públicas eficazes. Ela explicou que, como nos demais países, há uma forte dependência do poder público, mas a participação da iniciativa privada precisa ser crescente para que eles sobrevivam.
É o que se vê no Parque Científico e Tecnológico da Unicamp. Ele recebe de startups a empresas de grande porte, como IBM, Motorola e Samsung. Há também sete laboratórios de pesquisas de grandes empresas. De acordo com o diretor do parque, Eduardo Amaral, o sucesso dos empreendimentos é transformar pesquisa em inovação.
— Conhecimento só funciona se virar inovação. E a capacidade de gerar inovação é cumulativa, como se fosse uma espiral que precisa envolver da maneira correta os atores num dado ambiente e numa base que vai se retroalimentando. Inovação precisa de interação num ambiente pensado para isso, para que as pessoas se encontrem e troquem informação.
Também dessa forma pensa o diretor de desenvolvimento de negócios do Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), Elso Alberti Junior. Na opinião dele, o Brasil ainda está aquém do esperado na criação e venda de inovação. Apesar de ser a oitava maior economia do mundo e ocupar o 13º lugar em pesquisas acadêmicas, ainda é apenas o 64º lugar em inovação.
— Inovação é o que chega ao mercado e vende, gera riqueza e tributo. Os parques precisam transformar o conhecimento e a pesquisa acadêmica em serviço e produto e processos de alto valor agregado para que cheguem ao mercado. Quando isso acontece, temos inovação.
Ele contou como o projeto do Parque Tecnológico de São José transformou a cidade e ajudou a melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), hoje acima de 0.8.
— Tudo começou com a ideia de fazer aviões e alta tecnologia. Com o apoio do governo do estado e principalmente da prefeitura, o parque tecnológico tem foco de integração da universidade com as empresas, mas também temos uma série de ações pelo empreendedorismo e pela competitividade industrial.
Ele contou que hoje há 300 empresas e instituições vinculadas ao parque de São José, 94 delas associadas ao Cluster Aeroespacial e Defesa.
Fuga de cérebros
Um dos grandes desafios das universidades e empresas de tecnologia e inovação brasileiras é conseguir absorver os profissionais formados no mercado nacional, evitando o êxodo para países considerados mais atrativos por causa de oportunidades na carreira e salários mais vantajosos. Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Jorge Audy disse que é preciso haver uma tentativa massiva de reversão do processo conhecido como “fuga de cérebros”.
— Os países que recebem nossos melhores talentos aplicam mais de 2% do PIB em ciência, tecnologia e inovação. Hoje no imaginário dos nossos jovens mais brilhantes a expectativa de sucesso na carreira não está mais no Brasil. É preciso reverter esse quadro drasticamente.
Para ele, o Brasil ainda está se desenvolvendo ainda nos padrões dos séculos 19 e 20. Embora seja positiva a produção agropecuária e a exportação de commodities, é lamentável ver o PIB subir ou descer de acordo com as chuvas e a safra, diz. Audy também lamentou as vagas abertas nas empresas, sem que haja pessoal qualificado para preenchê-las.
Representante do Tecnopuc (Parque Científico e Tecnológico da PUC-RS) na audiência, Audy contou que os primeiros anos do parque foram voltados para consolidar o empreendedorismo entre os estudantes. Foram geradas 250 startups. A meta, para os próximos dez anos, é gerar mil. Hoje são 171 organizações instaladas no parque, 7,1 mil pessoas empregadas. Lá existem centros de capacitação das empresas Apple e Microsoft, além do Centro Tecnológico Audiovisual do RS (Tecna), que abrirá no final do ano estrutura de produção e pós-produção de conteúdos digitais criativos inclusive para a elaboração de jogos eletrônicos.
— E não estamos falando só de informática. Quando uma startup cria um kit para diagnosticar câncer de maneira precoce num dos nossos parques e aquilo é aplicado no hospital universitário ou no SUS, nós estamos inovando e estamos salvando a vida de alguém.
Encontrar talentos e investir em pessoas também foi o tom adotado pelo diretor-adjunto do Parque Tecnológico Metrópole Digital, Rodrigo Romão do Nascimento. Localizado no Rio Grande do Norte, o parque é resultante de um reposicionamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em meio a um novo modelo de formação de talentos, dando mais peso ao empreendedorismo ainda na formação acadêmica do estudante.
Ele destacou a posição estratégica do parque tecnológico, nos arredores da UFRN, e os benefícios concedidos às empresas baseadas no local: redução de ISS, IPTU e ICMS. Caso a empresa compre imóvel no Metrópole Digital, tem redução na taxa de transferência.
— São atualmente 43 empresas credenciadas ao parque. Aproximadamente 700 postos de trabalho em tecnologia da informação.
Na audiência, o senador Flávio Arns (Rede-PR) lembrou a atuação dos parques de Israel, que é um país com vários desafios em termos de terreno e solo, mas desenvolveu-se muito por causa do investimento em pesquisa e inovação. Ele também destacou a importância de começar o investimento ainda no ensino fundamental, quando as crianças têm, por exemplo, acesso aos fundamentos da robótica.
Já o senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) comentou desafios sociais que podem ser solucionados por inovação. Policial de carreira, ele destacou a necessidade, por exemplo, de ferramentas de reconhecimento facial.
— A segurança pública pode ter serviços mais eficientes em tecnologia de maneira menos onerosa para o Estado e nos serviços públicos — afirmou.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)